27 de julho de 2012

Como encarar este logótipo de Londres 2012?

No-go logo
broken swastika (a very punk one)
baseball-capped
consumer-crazy
skateboarding yoof
Zion (for Iranians, oh no…)

Esta é uma pequena amostra da controvérsia gerada em torno do logótipo concebido pela Wolff Olins para os Jogos Olímpicos de Londres 2012. Não é o primeiro caso, a mascote Cobi, de Mariscal, para os Jogos Olímpicos de Barcelona 1992, um cachorro de face dúbia, gerou uma onda de indignação. Eu próprio não gostei da chacota que Conan O´Brien fez com o casal de mascotes, Neve e Gliz, que criei para os Jogos Olímpicos de Inverno de Turim 2006. É quase impossível um ícone de grande amplitude medi­ática agradar a todos e é natural que, numa época caracterizada pela democratização da opinião, surjam ondas de criticismo popular, mais ou menos leviano, até porque agora toda a gente é criativa ou jornalista (especialmente no Facebook e no Twitter) levando­-me a concluir que, afinal, a democracia é foleira.

Há quatro anos, quando este logótipo foi apresen­tado não me agradou. Agora que, a poucos dias do ínicio dos Jogos, o M&P me pediu um artigo sobre ele, encontro-me novamente a contemplá-lo com a intenção de o defender, de descobrir algo mais que me tenha escapado, mas volto a não gostar. Aplico o princípio da designer Mary Lewis, “first catch the eye, then the heart, then the mind”, só que não passo do primeiro nível.

Faço batota e passo directo ao terceiro, “the mind”, lendo a justificação conceptual da Wolff Olins, “um repto às pessoas a se desafiarem a si próprias, a experimentarem coisas novas, a irem mais longe e a descobrirem novas possibilidades”. Nesse sentido, este símbolo olímpico é definido como “ousado e não convencional, deliberadamente audaz e inesperada­mente dissonante”, exprimindo Londres e o espírito olímpico, pela atitude e não por algum tipo de cono­tação icónica à cidade ou ao desporto “the emblem shows that the Games are more than London, more than sport.”

Então, se o novo, o não convencional e o inesperada­mente dissonante são o drive, se o que importa é estar para além de Londres e do que desporto, o que é que fica? O que é que vemos ou sentimos neste logótipo? Quando não há referência simbólica percebida (2012, por si só, não é distintivo de nada em particular) resta­-nos o prazer do olhar, formas e cores em harmonia com o nosso sentido de organização do caos (efeito Gestalt) que justificam o valor da abstracção e ao qual chamamos estética. Dois exemplos disso na arte, Mondrian e Rothko, dois exemplos disso nas marcas, Nike e Deutsche Bank. Mas nem no campo da pura abstracção estética, destituída de sentido figurativo, este logótipo nos dá prazer no olhar. Tudo o que temos é um monte de fragmentos volumosos, um símbolo visual que requer explicação, já que sem esta ele anda à deriva do que cada um possa pensar. Ora, um símbolo sem foco deixa de o ser e a diferença pela diferença é apenas pretenciosismo. Esperava-se mais da cidade criativa de Vidal Sassoon, Neville Brody, Paul Smith, Alexander McQueen, Vivienne Easwood… Visionários assim criaram a tal diferença proclamada pela Wolff Olins, mas com substância, conferindo a Londres uma identidade distintiva, simultaneamente conservadora, pop, excêntrica e visionária.

De qualquer modo, um logótipo é apenas uma síntese visual de um universo de experiências, a marca, sendo que em muitos casos não constitui o elemento com maior destaque. Por exemplo, a garrafa da Coca-cola assume maior protagonismo que o logótipo da marca e o mesmo acontece com o nosso eléctrico amarelo em relação ao símbolo da Carris. Nesse sentido, prefiro analisar os logótipos desdobrados numa expe­riência multifacetada, em coerência com um conjunto de códigos de marca de amplitude multissensorial que incluem tipografia, cores, imagens, sinais, textos, filmes, sons e materiais. Como até agora não detectei algo de particularmente relevante quanto ao desdo­bramento de aplicações deste logótipo, vou dar o benefício da dúvida enquanto aguardo pelo começo dos Jogos.

Deixei para o fim o aspecto que considero mais posi­tivo neste logótipo, o facto de ser o mesmo dos Jogos Paraolímpicos, contrariando a convenção de cada um dos eventos ter a sua própria identidade visual. Aqui sim, temos o melhor sinal de agregação dos povos e do espírito olímpico, porque há atitudes que fazem mais por uma marca que certos logótipos.

Artigo de opinião de Pedro Albuquerque, partner da Albuquerque Designing Business

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