Para além dos jogadores nacionais e de milhões de adeptos a torcer pelo
seu país, o Campeonato da Europa é também cenário de lutas entre
marcas desportivas. A Adidas e a Nike, esta última patrocinadora da
seleção portuguesa, são as duas grandes protagonistas desta batalha pela
supremacia no futebol.
Quando a Alemanha enfrentou Portugal no primeiro jogo do grupo para o
Euro 2012, outra batalha estava a ser jogada entre os patrocinadores
Nike Inc e Adidas AG pelo primeiro lugar na venda de equipamentos para o
desporto mais popular do mundo.
As camisolas vermelhas da equipa portuguesa, patrocinadas pela Nike,
em oposição às camisolas brancas usadas pela Alemanha, sublinham o
quanto a Nike progrediu face à Adidas, em tempos a marca dominante para
todos os produtos relacionados com futebol.
A Adidas tem sido associada com o futebol desde que a empresa alemã
foi fundada em 1949. A Nike, cujas raízes remontam aos anos 60, não
entrou no negócio do futebol até 1994. Dois anos depois, marcou um
“golo” incrível quando fez um acordo de patrocínio com a seleção do
Brasil.
«O negócio com o Brasil deu presença e perfil. Foi também um sinal de
objetivo estratégico», considera Simon Chadwick, professor de
estratégia e marketing de negócios de desporto na Coventry University
Business School, em Coventry, na Inglaterra.
Desde então, a Nike, que tem sede em Beaverton, Oregon, nos EUA, tem
gasto muito dinheiro em marketing. Patrocina também equipas e jogadores
portugueses conhecidos, como Cristiano Ronaldo.
A mais recente batalha de patrocínios entre a Adidas e a Nike foi com
as seleções nacionais da Alemanha e de França. A Adidas conseguiu
manter a sua seleção nacional, mas França foi conquistada pelo dinheiro
que a Nike ofereceu, que, segundo as notícias, rondou os 300 milhões de
euros. Em comparação, o negócio da Nike com o Brasil em 1996 foi de 100
milhões de libras (124,35 milhões de euros).
Enquanto maior marca de sportswear do mundo, a Nike tem vindo a
investir no futebol para aumentar a sua presença internacional. O
futebol tem cerca de 2 mil milhões de adeptos em todo o mundo, seguido
do basquetebol, com 1,2 mil milhões, segundo as consultoras de pesquisa
de desporto Repucom e Sport + Markt.
As empresas patrocinam equipas e jogadores populares para
comercializarem os seus produtos na esperança de influenciarem os
adeptos. Eventos desportivos como o Euro 2012 podem aumentar as vendas
de merchandise de futebol em cerca de 5%, segundo o analista do
Morningstar Paul Swinand.
As vendas de artigos de futebol irão ultrapassar os 4 mil milhões de
euros em 2012, segundo Peter Rohlmann da empresa de consultoria alemã PR
Marketing, que estima que a quota de mercado da Adidas é de 38%, com a
Nike bem perto, com 36% do mercado.
História e prestígio
Alguns especialistas afirmam que a Adidas está a defender não só as suas vendas em relação à Nike, mas também a tentar salvaguardar a sua história e prestígio no mundo do desporto.
"A Nike está efetivamente a fazer um esforço concentrado para crescer
no mercado internacional. Quem quer ser um player internacional, tem de
ter um forte negócio no futebol", indica Matt Powell, analista da
SportsOneSource, com sede em Charlotte, na Carolina do Norte.
"É realmente difícil medir o valor das vendas em dólares em relação a
estes eventos. Tem muito mais a ver com marca e credibilidade",
acrescenta.
A Adidas indicou que espera vender mais de 1,5 mil milhões de euros
em equipamento relacionado com futebol em 2012, ajudada pelo Campeonato
Europeu. As riscas da Adidas estão em seis das 16 equipas que participam
na fase final do Euro, metade ainda na corrida para a final: Espanha,
Alemanha e Grécia, a que se somam as já eliminadas Ucrânia, Dinamarca e
Rússia.
A Nike, com vendas anuais superiores a 20 mil milhões de dólares
(15,95 milhões de euros), afirmou ter registado 1,8 mil milhões de
dólares em vendas relacionadas com futebol no ano fiscal de 2011. A
aposta da Nike está em cinco equipas: Portugal e França (ainda com
possibilidade de ser campeãs) e Holanda, Croácia e Polónia.
A unidade da Nike, a Umbro – uma marca que a empresa está a pensar
vender – equipa outras três seleções: Inglaterra, Suécia e Irlanda. A
Puma tem duas equipas: a Itália e a República Checa.
Adeptos caprichosos
Especialistas consideram que a Adidas tem uma vantagem em relação à Nike na Europa devido às suas parcerias com a FIFA e clubes populares como Real Madrid ou o Bayern de Munique.
"Nos mercados europeus, há ainda preconceitos de que a Adidas está
historicamente associada com o futebol e a Nike não", destaca Chadwick,
mas acrescenta que "nos próximos 10 anos, é provável que vejamos a Nike a
ultrapassar a Adidas".
O diretor de marketing de futebol da Adidas, Michael Kresser, afirmou
no mês passado que a empresa pretende trazer pelo menos uma inovação de
produto para o mercado de futebol por ano. "Somos líderes de mercado e
vamos continuar a fazer tudo para manter essa posição", indicou em
entrevista.
A Nike tem também planos para o futuro. "Há um impulso imparável para
trazer novos produtos", assegura Charlie Brooks, diretor de comunicação
para o futebol da Nike. "O futebol é muito importante. Tomámos a
decisão estratégica em 1994 de que se queríamos ser a marca de desporto
líder mundial, precisávamos de liderar o futebol", refere Brooks.
Andreas Ullmann, presidente de inteligência de mercado da
Sport+Markt, espera que cerca de 7 milhões de réplicas de camisolas
sejam vendidas durante o Euro 2012, que sozinho garante vendas a retalho
de pelo menos 500 milhões de euros.
A Nike tem trabalhado para ser uma marca mundial com "um dedo no
pulso do futebol", descreve Ullman. Ainda assim, destaca que a Adidas é
um rival bem estabelecido e que muitas vezes tem melhores relações,
tornando difícil para a Nike ultrapassar a empresa alemã.
"Não acredito que a Nike possa fazer algo mais em futebol do que está
já a fazer, a não ser continuar a investir para construir o seu
património e dizer aos fãs que está para durar. Não tem a ver só com
dinheiro, tem a ver com a paixão pelo futebol", conclui Chadwick.
Fonte: Portugal Textil
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