29 de outubro de 2012

Recato domina swimwear

Os fatos de banho dos nossos avós deixaram para trás as bolas de naftalina e estão de volta em grande estilo nos EUA, com uma clientela eclética, que varia das consumidoras mais religiosas às mais cheiinhas e até às mais sensíveis ao sol. «Definitivamente, era necessário», considera a designer de moda de Nova Iorque, Regine Tessone. «Há muitas mulheres que precisam de usar um, incluindo eu própria», acrescenta Tessone, uma judia ortodoxa que chama à sua linha «swimwear kosher original».

Embora seja ainda um nicho da indústria da moda, o swimwear recatado está a experienciar um aumento súbito das vendas, com os retalhistas a verificarem um fluxo constante de novas compradoras ávidas por adquirir a gama completa.

Com as vendas a variarem de milhares a dezenas de milhares de artigos por retalhista, os representantes da indústria afirmam que estes fatos preenchem um vazio que deverá gerar, no geral, 2,6 mil milhões de dólares (cerca de 2 mil milhões de euros) em 2012, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado IBISWorld.

Zeena Altalib, que detém a loja Primo Moda em Sterling, na Virgínia, revela que começou «a ficar frustrada por não haver disponibilidade [deste tipo de produto]. Tive de procurar até encontrar alguma coisa com que ficasse satisfeita, que parecesse bem e com estilo mas também com um corte recatado, sobretudo para o verão», indicou a muçulmana praticante.

Juntamente com vestidos e vestuário de desporto, Altalib vende fatos de banho que se coadunam com os costumes conservadores muçulmanos: mangas compridas, calças até ao tornozelo, lenços para a cabeça – tudo em tecido sintético fabricado e aprovado para piscinas públicas.

Segundo Altalib, para as mulheres muçulmanas «o estilo de vida está a mudar», explicando que «querem e precisam de participar nas atividades do dia-a-dia», assim como «participar em canoagem, ir à praia, aproveitar o que Deus nos deu». E «desde que tenham o vestuário apropriado, podem fazer tudo», acrescenta.

Tessone, por seu lado, queria oferecer às clientes – incluindo às mais jovens – a possibilidade de «comprar recatadamente, nadar recatadamente e ser recatada». A designer lançou a sua marca on-line e a loja em Nova Iorque Aqua Modesta há cerca de 10 anos em resposta à falta de opções para mulheres que procuram evitar os masculinos na praia ou no ginásio.

Os seus conjuntos de quatro peças incluem uma saia com calções e soutiens de desporto completamente lisos por debaixo de uma camisola com mangas de três quartos e que correspondem aos códigos de vestuário de recato “tzniut” dos judeus ortodoxos.

«Tive de fazer o oposto de tudo o que aprendi como designer para a criação da minha própria linha», ri, apelidando-se a si própria como uma espécie de proscrita na escola de moda. «Fomos ensinados a enfatizar sempre os seios, as ancas, todas as áreas sensuais de uma mulher – e aqui tive de retrair», afirma, explicando que sob as diretrizes do tzniut, uma mulher pode ser bonita mas deve evitar provocar o desejo sexual fora do quarto.

A ideia é semelhante na Jen Clothing, que se direciona para os mórmons, com uma oferta de fatos de banho que apresenta cortes recatados num estilo à anos 50, revelando menos da coxa e que vão até ao busto. «Será que a exposição é assim tão sensual?», questiona a empresa no seu website, prometendo às suas clientes «um pouco de mistério e de classe».

Mas muçulmanos e mórmons não são os únicos a privilegiar fatos de banho com “mais tecido”. Algumas mulheres cristãs mais conservadoras – sobretudo evangélicas e convertidas ao cristianismo – e mesmo mulheres seculares mais velhas e com tamanhos grandes, num país que tem um problema crescente de obesidade, estão a aderir à tendência. «Vejo muitas mulheres que nunca andariam de roupa interior e que fazem isso na praia! É de loucos», comentou uma utilizadora, de nome Nicole, no blogue cristão Created to Be His.

Amber Gray, da empresa de vestuário Simply Modest, fala de uma «resposta» contra o tipo de feminismo que «promete liberdade, mas na verdade leva as mulheres a pensar que têm de se enquadrar numa certa ideia do que uma mulher deve ser – e parte disso é mostrar o seu corpo a quem quer que o queira ver». Amber e a irmã Heather, que tiveram aulas em casa com os pais, compraram o negócio em 2009 porque «acreditamos que Deus o queria quando ordenou às suas mulheres que se vestissem de forma recatada», segundo o seu website.

Joan Ferguson, fundadora da WholesomeWear, revela que nem todas as suas clientes são motivadas pela fé, com várias a ter doenças de pele ou a querer cobrir cicatrizes de cirurgias. «Muitas é por propósitos religiosos», afirma. «Mas notei que ganhei clientes ao longo dos anos que compram os meus fatos por questões de peso, para ficarem menos expostas ao sol e, à medida que uma mulher envelhece, está menos à vontade num fato-de-banho bem decotado», explica.

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